quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

"A Matemática é o prazer de pensar" - Jorge Nuno da Silva

Extratos de uma entrevista com Jorge Nuno da Silva, professor do departamento de Matemática da FCUl e um entusiasta e especialista em jogos matemáticos.

"(...) A escolha da matemática acontece aos 20 anos, já depois de ter sido admitido na licenciatura de Medicina. “Eu fui um aluno mais ou menos, era bom aluno às vezes, e outras vezes era não muito bom aluno, por razões óbvias: o comportamento”, conta.
Sem mostrar grande apetência para as ciências humanas ou para as ciências naturais, “era igualmente bom ou mau em ambas”, foi “por acaso que fui para Medicina”. Já no decorrer da licenciatura, que não concluiu, decidiu espontaneamente assistir a uma aula de matemática do professor José Luís Fachada, que viria a ser seu professor durante três anos, e a sua vida ficou virada do “avesso”, conta o matemático.
Jorge Nuno Silva sentiu-se na altura, e ainda hoje, aos 56 anos, fascinado por que a matemática representa “um bocadinho o desconhecido, o desafio constante. A matemática é lindíssima e fantástica porque é difícil, se fosse fácil não tinha essas qualidades”.
Enquanto despertava este gosto pela matemática, Jorge Nuno Silva mantinha um outro: o jogo. Não foi difícil conjugar ambos e assim se tornou num especialista em jogos matemáticos. “Depois do 25 de Abril de 1974, houve um ano em que as pessoas não entraram na universidade. Era preciso esperar e inventaram uns programas, serviços cívicos, que nunca se mostraram suficientemente apelativos para mim. Não fiz nenhum. Passei esse ano a jogar”, relembra.
Os jogos foram muitos, “às vezes proibidos”, com que ocupou esse ano da sua juventude: Xadrez, Bridge, Poker. “Mais tarde, por acaso, quando estava a doutorar-me nos Estados Unidos da América, em Berkeley, fiz uma cadeira de teoria de jogos combinatórios e descobri uma área fantástica. Fiz ainda um mestrado nessa área”, conta Jorge Nuno Silva.
Ao regressar a Portugal já na década de 2000, começou a fazer exposições sobre os jogos matemáticos, a mostrar aos colegas e a lançar as bases para o campeonato nacional de jogos matemáticos, uma iniciativa que é hoje realidade já com nove edições concretizadas.~
“Juntou-se um grupo de entusiastas e hoje temos um movimento de jogos matemáticos em Portugal muito forte e interessante. Temos vários mestrados na área e doutoramentos”, avança o entrevistado.
(...)

O gosto pela matemática cultiva-se
Jorge Nuno Silva considera que os principais responsáveis pela situação actual do ensino nacional são a sua classe, ou seja nos professores do ensino superior. “Um dos segredos do sucesso do campeonato nacional de jogos matemáticos, que vai agora na 9ª edição, é a motivação dos professores. Eles aderem, ninguém lhes paga nada, tiram isso do seu esforço, mas aderem e gostam. O problema não são os professores, que claro que precisam de ser ajudados e apoiados porque eles não vão, com as vidas imensamente ocupadas e vendo a sua profissão muitas vezes humilhada, ter a possibilidade de descobrir estas coisas. Precisam de ajuda e a ajuda deve vir de nós, ensino superior. As pessoas mais responsáveis pelo mau estado do ensino em Portugal são os docentes do ensino superior porque somos nós que formamos os professores”, sublinha.
O entrevistado assegura que os alunos quando confrontados com a matemática de uma forma lúdica e onde vejam a sua utilidade gostam e aceitam o desafio de aprender algo difícil. “O gosto pela matemática é uma coisa que se cultiva, que se contagia, mas é preciso fazer um esforço e nós nem sempre fazemos esse esforço. Muitas vezes há ambientes, matérias e maneiras de ensinar que são irrelevantes para a vida futura. Devemos ter a humildade de rever os currículos das disciplinas”, defende o matemático."
Texto de Sara Pelican

Texto integral aqui

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