O Senhor Swedenborg - uma surpresa, um prazer, uma mistura de filosofia (de vida) expressa em formas e conceitos geométricos. Uma leitura e uma visão muito interessante e original! (1ºcapitulo do livro disponível aqui)
A relação de Gonçalo M. Tavares com a matemática
"O Mapa
Sempre senti a matemática como uma presença
física, em relação a ela vejo-me
como alguém que não consegue
esquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado
apertada nas mangas.
Perdoem-me a imagem: como
num bar de putas onde se vai beber uma cerveja
e provocar com a nossa indiferença o desejo
interesseiro das mulheres, a matemática é isto: um
mundo onde entro para me sentir excluído;
Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relação
aos números e aos seus cálculos, é um sistema,
ao mesmo tempo, milionário e pedinte. Escrever
não é mais inteligente que resolver uma equação;
Porque optei por escrever? Não sei. Ou talvez saiba:
entre a possibilidade de acertar muito, existente
na matemática, e a possibilidade de errar muito,
que existe na escrita (errar de errância, de caminhar
mais ou menos sem meta) optei instintivamente
pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa."
física, em relação a ela vejo-me
como alguém que não consegue
esquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado
apertada nas mangas.
Perdoem-me a imagem: como
num bar de putas onde se vai beber uma cerveja
e provocar com a nossa indiferença o desejo
interesseiro das mulheres, a matemática é isto: um
mundo onde entro para me sentir excluído;
Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relação
aos números e aos seus cálculos, é um sistema,
ao mesmo tempo, milionário e pedinte. Escrever
não é mais inteligente que resolver uma equação;
Porque optei por escrever? Não sei. Ou talvez saiba:
entre a possibilidade de acertar muito, existente
na matemática, e a possibilidade de errar muito,
que existe na escrita (errar de errância, de caminhar
mais ou menos sem meta) optei instintivamente
pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa."
Senhor Brecht (livro completo em formato digital) é um livro curioso, irónico, por vezes, mordaz, mas muito perspicaz!
"Um país agradável
ERA UM PAÍS muito agradável para viver, mas as pessoas eram tão preguiçosas que, quando o presidente ordenou que defendessem as fronteiras, eles bocejaram. Foram invadidos.Os invasores também começaram a ficar preguiçosos e, um dia, quando o novo presidente ordenou que os homens defendessem as fronteiras, todos bocejaram. Foram de novo invadidos. Agora por homens vindos de um outro país.Mais uma vez os invasores em pouco tempo ficaram preguiçosos, e quando pela terceira vez um novo presidente ordenou que os homens defendessem as fronteiras, todos bocejaram.Mais uma vez foram invadidos. O país estava cada vez mais populoso.Tal repetiu-se até que todos os povos – mesmo os que vinham do outro lado do globo – haviam já invadido aquele país, e depois, sucessivamente, sido invadidos. Já não havia gente em mais lado nenhum: concentravam-se todos naquele país agradável.Foi nessa altura que o novo presidente ordenou a invasão do resto do mundo pois o mundo estava completamente vazio – à sua mercê, portanto. Porém, todos os homens bocejaram.E então ele (sem o notar) avançou, sozinho."
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