quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sorvetes e bebidas frescas no século XVI



Na Península Ibérica, o aproveitamento da neve e do gelo para usos alimentares e médicos é antiga mas o hábito de saborear um sorvete ou uma bebida fresca foi introduzido na corte de Filipe II, nos finais do século XVI. Em 1615, vendia-se neve nas ruas de Lisboa. 
Sem frigoríficos, nem congeladores como era possível esta proeza? 
Inicialmente, a neve, que abastecia a corte, provinha da Serra do Coentral, situada na extremidade sul da Serra da Estrela no entanto, o uso de gelo e de neve tornou-se comum não só na corte e no seio da nobreza como também nas camadas burguesas e populares. O aumento do consumo de gelo, no século XVIII, suscitou a necessidade de encontrar um serra perto de Lisboa, com condições climatéricas que permitissem a congelação da água no inverno. É neste contexto que é construída, por volta de 1741, a Real Fábrica do Gelo da Serra de Montejunto, a 40 km de Lisboa, no concelho do Cadaval.
Existem muito poucos registos escritos sobre a Real Fábrica de Gelo tendo muitos dos conhecimentos sido transmitidos oralmente de geração em geração entre trabalhadores da fábrica. Segundo os relatos consta que o processo do fabrico de gelo tinha início no mês de setembro com o enchimento dos 44 tanques de água. Quando o gelo se formava, o guarda da fábrica, ia a cavalo até à aldeia e com uma corneta acordava os trabalhadores. Os trabalhadores partiam as placas de gelo, amontoavam os fragmentos e depois transportavam-os para os silos de armazenamento onde eram conservados. No final da primavera, os blocos de gelo eram transportados em burros, até à base da serra, depois em carros de bois até à Vala do Carregado, às margens do rio Tejo, onde, de seguida, eram transportados até Lisboa pelos chamados "barcos da neve".

 A Real Fábrica de Gelo encerrou nos finais do século XIX devido ao surgimento de outras formas mais industrializadas de produção de gelo. Única no país, é um dos raros exemplos de seu género existentes na Europa, utilizando um método muito avançado para a época, e foi uma extraordinária melhoria da qualidade e higiene alimentares. O gelo era obtido por congelação natural, em tanques calcários construídos para o efeito, e depois preservado em poços adequados e caiados, ao invés do processo utilizado na Serra do Coentral, onde a neve natural era amontoada pelo próprio vento e envolvida em mato e esterco de modo a ser conservada. Foi ainda um fator relevante na economia concelhia bem como no comércio de gelo com retrata o ditado da época recitado pelo populares: "quando o poço grande estava cheio de gelo, o pequeno estava cheio de moedas de ouro". 
Existem visitas guiadas à Real Fábrica do Gelo onde estas e outras histórias podem ser ouvidas. 


2 comentários:

Ana Simões disse...

Tenho um livro muito giro que li o ano passado sobre o aparecimento dos gelados em França e Inglaterra enquanto Catarina de Bragança era rainha de Inglaterra. Explica o processo artesanal de fazer os gelados e algumas receitas. Acho que se chama a rainha dos gelados.

Pi disse...

Aguçaste-me a curiosidade e o apetite! Obrigado e beijocas.

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