terça-feira, 9 de abril de 2013

Estímulos e percepções

Muito mais importante que saber contar até dez ou até cem ou até mil, é as crianças saberem associar o som à quantidade. Pode-se estimular esta percepção, desde tenra idade, utilizando objetos "olha um boneco", "olha dois lápis", levando assim a criança a associar o som, ao estímulo visual e à quantidade de elementos que lhe são mostrados. Esta percepção é essencial para a criança perceber por exemplo: que 17 é menor que 20,  que 6 é o mesmo que ter 2 + 4 ou 5 + 1 ou que a diferença entre 15 e 13 é igual à diferença entre 12 e 10. Estudos recentes demonstram que o conceito/percepção de número nas suas várias vertentes, desde tenra idade, tem um papel importante na aquisição e desenvolvimento de capacidades matemáticas.
As crianças pequenas e os animais sabem fazer estimativas sem saber contar por exemplo, escolhendo a caixa onde existem mais brinquedos, tal como o passáro que escolhe o arbustro que tem mais bagas ou as leoas que só atacam outro grupo se este tiver um número de elementos inferior ao do seu grupo. Uma estimativa/aproximação é bem mais importante e útil para a "sobrevivência" do que saber enumerar cada baga ou cada leoa! 
Algumas tribos da amazónia só têm noção das quantidades até 5 (os dedos de uma mão) para quantidades maiores que cinco recorrem a estimativas. Quando lhes foi pedido que colocassem ao longo de uma reta as quantidade 1, 2, 3,4, 5,...10, os intervalos entre os números começavam por ser grandes e tornavam-se progressivamente mais pequenos à medida que os números aumentavam, assemelhando-se a uma escala logaritmica. Mais tarde, foi pedido o mesmo a crianças com menos de 6 anos e verificou-se que elas distribuíam os números exatamente da mesma forma que os elementos da tribo, enquanto as crianças com mais de 6/7 anos já representavam os números naturais consecutivos dispostos a espaço iguais uns dos outros (tipo régua), escala linear. Estas duas concepções distintas refletem a diferente forma como os elementos de uma tribo na Amazónia e as crianças, que ainda não frequentaram a escola, e nós, adultos instruídos, percepcionamos o mundo. 
Se virmos um árvores a 100 metros e uma outra 100 metros atrás dessa, os segundos cem metros parecem-nos mais pequenos, acontece-nos o mesmo com a percepção do tempo: o dia de ontem parece muito mais longo que a semana passada, os anos agora parecem voar enquanto que à 20 anos atrás pareciam passar muito mais devagar, como na diferença entre gastar mil milhões de litros de água e dez milhões de litros de água, a diferença é enorme mas temos tendência a ver ambas como similares - enormes quantidades de água: quanto maiores são os números, mais próximos entre si nos parecem. Intuitivamente, sem nos apercebermos e apesar de termos sido ensinados a utilizar a escala linear, em alguns situações no nosso quotidiano utilizamos, à semelhanças da tribo da Amazónia e das crianças pequenas, escalas logarítmicas. 


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