Final de ano letivo, época de testes, já cheirava a férias, tivemos um furo, um feriado, como lhe chamávamos na altura,que bem que sabiam anunciados pelo famoso 2º toque e dos gritos eufóricos da malta.
Decidimos ir dar uma volta ao jardim, em frente à escola, no tempo em que "circulação" de crianças não envolvia grandes perigos nem medos. No regresso, avistámos, no passeio, caído um morcego bebé, vivo e desorientado. Era bem pequenininho, cabia em menos de metade da nossa pequena palma da mão, ainda não sabia voar. Achámos que estava condenado a morrer se o deixássemos ali. Com ele na mão, não sabíamos muito bem o que fazer para salvar o pequeno bichinho mas abandoná-lo à sua sorte não era um opção que considerássemos. Até que alguém diz "Já sei, já sei! A nossa professora de Ciências Naturais! De certeza que ela sabe o que devemos fazer para o ajudar! Vamos levá-lo a casa dela!". Todos sabíamos que ela morava em frente à escola, tocámos na 1ª campainha, alguém abriu a porta, os tempos eram, definitivamente, outros, e fomos informados pela sua vizinha qual era a casa da "senhora professora". Subimos, apressadamente, as escada, morceguito nas mãos, e batemos eufóricos à porta. A nossa querida professora abre a porta e fica a olhar para nós com uns olhos arregalados de espanto "Olá! Passa-se alguma coisa? Precisam de ajuda? Estava a corrigir os vossos testes ...", olhando paras a nossas caritas ansiosas, de putos de 7º ano a pensar se teríamos tomada a decisão certa. Mostramos-lhe o morcego, a quem ela fez, sem hesitações, uma pequena festa e, respirando de alívio, contamos-lhe onde o tínhamos encontrado e os nossos receios. Ela foi buscar uma pequena caixa para colocarmos o morcego. Perante os nossos olhares esperançadas, informou-nos "À noite, vou ao jardim deixá-lo mas, provavelmente a mãe vai rejeitá-lo, podemos, no entretanto, tentar dar-lhe umas gotas de leite que ele também deverá rejeitar. Não há muito mais que possamos fazer por ele mas podemos tentar!". Deixámos a nossa professora com os nossos testes e o morcego em mãos, com a noção de missão cumprida. Já a nossa jovem e querida professora, muito provavelmente, acabara de viver um (ou o) dos momentos mais insólito da sua, ainda breve, carreira de professora de Ciências Naturais. No dia seguinte, perguntámos à nossa professora não pelos testes mas pelo morceguito ao que ela respondeu, sabiamente, sorrindo "Deixei-o no jardim, como vos tinha prometido, fizemos tudo o que havia e podia ser feito, agora é deixar a natureza seguir o seu curso!".
Relembro este episódio como se fosse hoje, há momentos, pessoas e bichos que nos ficam na memória! Aposto que a nossa professora também se recorda deste nosso episódio, apesar de não a vermos há anos :).
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