sábado, 18 de julho de 2015

Transporte a Pedido

Em Lisboa e no Porto, a questão que colocamos é se o autocarro ou o metro passam de 5 em 5 ou de 7 em 7 minutos; muitas terras há, em que nunca passa um transporte público dias a fio. Associamos estas terras/realidade ao Portugal profundo onde não mora (quase) ninguém, não podíamos estar mais equivocados. Com a reorganização do sistema nomeadamente,"rede" de saúde e dos tribunais, estes problemas agravaram-se, deixando muitas pessoas com uma única hipótese de transporte: o táxi.
Até 2013, a lei que regulava os transportes públicos, datada de 1948, referia que ao poder central competia autorizar todo e qualquer serviço de transporte público em qualquer ponto do país. Qualquer autarca, no Algarve, Trás-os-Montes, etc., teria que pedir autorização "ao poder central em Lisboa", para na sua terra, que conhece como a palma da sua mão, criar uma nova carreira ente uma aldeia remota e a sede do concelho. 


Em 2012, a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) decidiu fazer uma experiência piloto de transporte flexível - Transporte a Pedido - para tentar colmatar os problemas de transportes em zonas remotas. Tendo como base a lei referida anteriormente, um despacho do Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (despacho 7575/2012) foi necessário, para delegar na CIMT, a competência para definir e aprovar os serviços considerados necessários para desenvolver este projeto de transporte flexível, na respetiva área territorial, a título de projeto-piloto. Este despacho foi o preconizador do programa Portugal porta a porta.

Em Janeiro de 2013, arrancou em Mação o referido projeto piloto. Começou com a criação de 5 linhas com centro em Mação (sede do concelho), que cobriam dois terços do concelho, com 2 horários de manhã cujo destino era Mação e 1 horário para regressar depois de almoço.
Mas como funciona este serviço?
Para o passageiro existe um conjunto de linhas e horários bem definidos como em qualquer serviço regular de transportes mas com um funcionamento diferente: o passageiro tem que telefonar, na véspera até às 17h00, informando que pretende usufruir do serviço, indicando a paragem de origem, a de destino, o horário e o número de passageiros.
Na central de reservas, os pedido são registados e para cada nova reserva é calculada a rota ideal (minimizando o número de veículos e de quilómetros percorridos), garantindo o transporte de todos os passageiros e cumpridos os horário anunciados (hora de partida e de chegada).
A origem da denominação Transporte a Pedido advém do facto de o autocarro só ser utilizado se houver pedidos e só realiza o percurso necessário para transportar os pedidos efetuados na véspera. Assegura-se, assim, as necessidades diárias dos utentes, através da reserva, evitando o cenário, em certas zonas de baixa densidade populacional, em que o autocarro circular vazio (ou quase), gastando combustível e poluindo o meio ambiente sem necessidade.
É um transporte flexível porque, na realidade, o transporte nem sempre é realizado por um autocarro; dependendo do número de passageiro a transportar: este pode ser feito por um táxi, por exemplo com 3 reservas , ou um veículo de 9 lugares, se houver 6 reservas.
Existem ainda duas componentes que são uma mais valia para a CIMT como gestora do serviço: todas as reservas são guardadas numa base de dados. Com o acesso e análise da base dados é possível perceber quais os horários e paragens com mais procura e os que não são usados. Se ao fim de 6 meses, um horário não teve procura, é possível ajustar o mesmo para outra hora que seja mais conveniente aos passageiros, provendo o serviço de flexibilidade. Por exemplo, em Mação, ao fim de 6 meses percebeu-se que o segundo horário da manhã nunca era utilizado e que o horário de volta deveria ser mais tarde e, rapidamente, estas alteração foram postas em prática, proporcionando um serviço melhor e mais ajustado às necessidades dos utentes. Dado o sucesso do projeto, ao fim de 6 meses, o serviço foi alargado a todo o concelho com 8 linhas e o número de veículos necessários reduzido (por análise dos dados recolhidos) diminuindo assim de forma drástica os encargos mensais do serviço para a CIMT.
A segunda componente, mais tecnológica, é o contolo através de GPS da hora de chegada e partida das paragem. Sem grande esforço é possível perceber se o serviço contratado está a ser cumprido ou se são necessários ajustes no horário publicado.
Neste momento o serviço já foi alargado aos concelhos vizinhos de Abrantes (zona norte) com 3 linhas e Sardoal com 2 linhas e espera-se que um dia seja estendido ao resto dos municípios da CIMT.

Com este serviço diferente, e com custos controlados para o gestor do serviço, muitas pessoas que nunca tinham visto um autocarro passar à sua porta têm agora um serviço público de transportes à distância de um telefonema.


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