quinta-feira, 14 de março de 2013

Romance Ingénuo de Duas Linhas Paralelas

Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente de infinito em infinito.
Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar,
Falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha
Uma delas, certo dia,
Voltou-se para a outra linha,
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
'Deixa lá a geometria
E anda aqui para o pé de mim…!
Diz a outra: 'Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar,
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!'
Não se dando por achada
Fica na sua a primeira,
E sorrindo amalandrada,
Pela calada, sem um grito,
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.
E com ele ali à frente,
As duas a murmurar,
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar.
Seguiram as duas juntas.
Assim nestas poucas linhas
Fica uma história banal
Com linhas e entrelinhas.
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.
José Fanha

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