sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Esse extremo luxo"


"Hoje tive saudades. De quê, perguntarão. De um tempo lá muito para trás, em que eu era pequenina.
Não sou saudosista, tenho-o dito imensas vezes. O passado, bom ou mau, ficou arrumado e só muito raramente volta à superfície.
Mas esta tarde, o cheiro da alfazema lembrou-me a casa dos meus avôs maternos e a imensa ternura que sempre recebi deles. Era uma casa sem luxos, mas cheia de amor e de alegria.
No começo do verão as roupas eram postas a arejar e arrumadas de novo entre saquinhos de alfazema que as perfumavam até serem usadas. E quando as camas eram feitas de lavado, aquele odor de campo enchia os nossos pulmões. Foi essa acalmia, essa bonomia de um tempo que apenas se desenrolava entre cheiros e risos despreocupados que, de repente, recordei.
Tenho alguma pena que essa forma de vida já não exista e que, ao contrário, a crispação e a agressão verbal sejam o nosso quotidiano. Agora a voracidade da vida é tal que já nem sequer sabemos o que é esse supremo luxo de perder tempo..."

Belo texto de Helena Sacadura Cabral no Delito de Opinião. Vale a pena ler também os comentários ao seu post.

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