Hoje de manhã, ouvi vários comentários de pais, na escola dos pequenos, sobre o espetáculo A Branca de Neve do Festival do Gelo, sendo que quase todos seguiam a linha do "foi uma desilusão, mais adequado para adultos, pouco narrado, tive que lhes explicar, os anões não vinham vestidos como na história, a madrasta não falou ao espelho...". Não poderia discordar mais desta visão, a meu ver simplista, de um espetáculo muito bonito e tecnicamente muito bem executado, pelos The Russian Ice Stars - elite mundial de patinadores no gelo.
A Branca de Neve é uma história que todas as crianças conhecem e que pode ser representada e interpretada de várias maneiras, com mais ou menos pormenor, mas onde a ideia geral da história é compreendida por todos. As crianças quando brincam ao faz de conta, não utilizam todos os adereços, nem dizem todas as falas, nem têm muitas vezes cenários mas sabem identificar e retratar os momentos mais importantes da história.
Este foi um espetáculo de patinagem no gelo, não foi uma peça de teatro, nem foi uma hora de conto, há muitas formas diferentes de expressar sentimentos e ideias sem ser necessário recorrer à fala, utilizando a música, os jogos de luzes, as expressões corporais, etc e era esta a beleza e a magia deste espetáculo. Usar a imaginação, saber interpretar os vários "sinais" para se situar na história, que tão bem conhece, é um ótimo exercício para uma criança. Que magia pode ter um espetáculo destes quando alguém sussurra ao ouvido da criança o que ela está a ver, que tempo e vontade terá a criança de fazer as suas próprias associações depois disto? Às vezes, tenho a sensação que nós, adultos, é que sufocamos, em vez de estimular, a imaginação/criatividade e a capacidade de pensar das crianças para as "moldarmos a nós".
Em determinados espetáculos e momentos da vida, as palavras são desnecessárias, basta observar, pensar e sentir!
A malta, miúdos e graúdos, cá de casa adorou o espetáculo e o curioso é que, no final, todos queriam ser não como é habitual a Branca de Neve e o Caçador, mas a Madrasta e o Corvo. Achei estranho pois identificam-se sempre com os "bons" da história mas ao perguntar-lhes percebi o porquê desta escolha. Foram as interpretações destas personagens que eles acharam mais fantásticas a nível artístico. Palavras para quê, está tudo dito...
Um excelente espetáculo que recomendo! O Festival no Gelo voltará a Portugal em dezembro de 2013 :)
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