sábado, 26 de janeiro de 2013

Tiro de quem vive na redoma

Parece que o artigo de Henrique Raposo "As crianças não são hiperactivas, são mal comportadas" tem gerado alguma celeuma. Um post no blogue O arrumadinho (carregar para ler), um dos blogues da moda, sobre este artigo motivou este meu desabafo!


É normal as crianças brincarem, gritarem de excitação, falarem muito e alto e etc., está tudo descrito pela psicologia do desenvolvimento infantil, onde Piaget continua a dominar! Tal como é expectável, e sempre será, haver pessoas, com filhos ou sem filhos, velhos ou novos, que se sintam incomodadas com estes comportamentos normais das crianças, como se sentem, igualmente ou mais, incomodados por adultos que falam muito e alto, são inconvenientes e/ou desagradáveis, etc. O grau de tolerância é diferente de pessoa para pessoa!
As crianças, hoje em dia, não são iguais às de há 10 anos, nem há 20 anos como não serão iguais às das gerações futuras. Existem caraterísticas comuns, mas a forma como reagem e interagem são influenciadas/condicionadas pelos estímulos, gostos, apetências e objetivos que diferem de geração para geração, todos os pais têm interesses, vivências bem diferentes dos seus antecessores pelas mesmas razões.
Crianças mal comportadas sempre houve, é verdade, mas caso tivesse lido alguns estudos sobre crianças, este senhor depressa constataria que é um facto que as crianças de hoje em são diferentes das crianças do seu tempo, tal como se tivesse lido alguns estudos sobre o que se passa nas escolas hoje em dia, teria rapidamente percebido que os níveis de indisciplina são gritantes comparativamente com os do seu tempo, teria sido útil também se tivesse falado ou lido o que muitos psicólogos relatam dos problemas de autoridade e respeito que muitos pais têm na relação com os seu filhos, assim com se tivesse falado com alguns educadores de infância e/ou professores perceberia que o que Henrique Raposo relata não foge muita à realidade. Não é a sua realidade, não é a realidade do seu núcleo de amigos/conhecidos, ainda bem para si e para os seus. Mas, infelizmente, é uma realidade, por sinal, bem triste e recorrente, para quem lida com crianças e os seus pais, frequentemente, a nível profissional. Ao contrário do que afirma, muitos pais não se impõe, não por não se quererem chatear, embora também haja, mas por considerarem ter pouco tempo disponível para o seus filhos e, no pouco tempo que têm, não os querem contrariar por medo de perder o seu amor, por não quererem ser os maus da fita, porque ficam envergonhados por não saber lidar com as birras dos seus filhos em público e com a imagem que outros poderão ficar de si. Realçou o papel mais ativo do pai na educação dos seus filhos mas teve em conta o número de crianças, cujos pais são separados, que vivem em famílias completamente disfuncionais?
Estímulos, atividades para os tornar mais espertos e criativos? Para quê? Para corresponder às elevadas expectativas que os pais criam para elas e depois gerar frustração em ambos? Toda a criança, hoje em dia, é, ou tem de ser, um génio em potência e onde fica aqui o ser criança?! As atividades e estímulos são importantes para fomentar laços, para nos divertirmos enquanto família, para despertar a curiosidade, observar e contemplar, para lhes mostrar opções sem condicionar, nem direcionar!
Utilizando uma expressão sua, o “tiro” de Henrique Raposo foi bem mais fundamentado, certeiro e assertivo!

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